Tem uma menina que estudava comigo, que eu sempre achei linda. Se eu não me engano, ela era modelo na época da escola... Lembro até que ela foi escolhida para fazer propaganda do colégio, e de um dia pro outro tinha fotos dela em outdoors e nos ônibus pela cidade. Eu me gabava com meus pais, dizendo que ela era uma amiga minha - não sabiam eles que nós fomos da mesma turma por cinco anos, e que a única vez que eu falei "com ela", foi quando o professor mandou eu fazer a chamada. Mas isso não importava, porque eu sabia o nome dela, sabia o nome das amigas dela, o curso que ela ia fazer pro vestibular, e sabia até a estampa dos sutiãs dela (só porque a farda era branca e dava pra ver hehe)... ou seja, eu podia muito bem me passar por um grande amigo dela, mesmo que ela não soubesse nem meu nome.
Pois bem... O tempo passou, eu entrei na faculdade, superei o trauma de nunca ter falado com a menina que eu considerava a mais bonita do colégio, e nunca mais pensei nela, ou no sutiã de florzinhas coloridas que ela costumava usar. A última coisa que eu soube dela, foi que ela estava fazendo Direito na Católica e tentando passar na UFBA.
Só que hoje o impossível aconteceu. Eu estava mais feio do que o meu normal, com uma daquelas bermudas floridas de "surfista" e uma blusa de propaganda do banco do brasil, com um boné de propaganda de remédio, havaiana branca encardida e uma espinha imensa bem no meio da testa. Resumindo, eu não poderia ter ido mais esculhambado pra farmácia, comprar Vitamina C pra minha mãe (ela agora inventou que Vitamina C faz bem pra flacidez, e tá detonando um potinho efervescente por semana). E ainda assim aquela menina - bronzeada sem estar vermelha, mais alta do que eu (o que não é difícil), e de cabelos loiros e ondulados - não apenas me reconheceu, mas me chamou por nome E sobrenome! Quando, na minha vida inteira, eu imaginaria que aquela menina saberia meu sobrenome? Pois é.
Eu não olhei pra ela imediatamente, por causa da espinha, e nem precisava olhar pra saber que era ela, porque eu passei 5 anos sentando atrás dela e ouvindo ela falar mal da professora de biologia. Mas ela pegou no meu ombro, forçou uma visão frontal, e... Foi a maior decepção da minha vida. Tinha alguma coisa muito diferente nela, mas eu não conseguia identificar o que era. O cabelo ainda era o mesmo, a pele de bunda de nenem, até as unhas ainda eram gigantes e pintadas e vermelho... O que estava diferente?
Acho que ela percebeu a minha cara de quem tá procurando milho inteiro em bosta de galinha e me poupou mais alguns minutos de análise frenética. "O que foi? Você ainda não tinha me visto depois da plástica?" Ela perguntou isso enquanto passava a mão no queixo. Era isso, sei lá o que ela tinha feito no queixo, mas ficou muito esquisito. E mesmo assim, ela parecia muito feliz e satisfeita.
Não sei porque essas meninas são tão obcecadas por detalhes... O que um queixo assim ou assado pode contribuir ou prejudicar a beleza de alguém? Eu sou a favor da beleza natural. Cabelos naturais, nariz natural, QUEIXO natural... Essas pessoas ficam brincando de Deus, mudando uma coisa aqui e outra acolá, e acabam estragando o que - poderia não ser individualmente bonito - mas estava em harmonia.
Bom, a verdade verdadeira, é que o encontro de hoje acabou com uma das minhas maiores fantasias do passado, e embora hoje em dia eu não precise mais delas, é muito frustrante ver algo que eu gostava e achava bonito ser completamente distorcido. É como quando eu assisti o filme do Pokemon semana passada... Eu lembrava que era muito foda, e eu me amarrava em assistir, mas agora descobri que eu só gostava porque era cuzão demais. Ou seja, frustrante. A partir de hoje, vou lembrar de deixar o passado no passado.