quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sobre beijos [?]

Ontem teve uma postagem coletiva com o tema "Kiss me", eu estava fazendo minha última final na faculdade,[estou de férias!! aeaeaeaeae] por isso não pude participar, mas já que é assim, vou falar sobre beijo. Não vou falar de primeiro beijo porque o meu primeiro beijo foi humilhante demais para ser exposto assim - eu sou cara de madeira, mas não tanto. Vou falar do segundo beijo. Não do segundo beijo cronológico, porque ele foi igualmente traumático, mas do primeiro segundo beijo depois de ter dado um primeiro beijo em alguém. Será que deu pra entender?
Se tem uma coisa que eu sei nessa vida, é que meninas podem ser muito cruéis, principalmente com os caras feios. E como eu era* um cara feio, elas eram cruéis comigo também. Porque como a maioria dos caras feios, eu era um bobão que se apaixonava em um piscar de olhos. Bastava a menina sorrir de um jeito simpático, rir de uma piada minha ou me desejar "bom dia" e me pedir um lápis emprestado em um mesmo dia. Esse tipo de cara, ou melhor, esse meu tipo é essencial para auto-estima feminina, sabe? Por causa de caras como eu, elas têm certeza que são bonitas e se sentem bonitas [e ficam ainda mais bonitas por isso]. Porque os caras "descolados" [vamos colocar dessa forma] são narcisistas e estão sempre preocupados com a própria aparência - eles vivem de aparência -, então não importa realmente se a menina é linda ou só engraçadinha, o importante é que  o venere e pague um pau direitinho.
Eu perdi as contas das vezes que as meninas ficaram comigo para provocar ciúme "nos descolados"; pra fazê-los notar sua presença. Mas é lógico que elas não me contavam qual era a intenção. Começavam a me dar bola, a sorrir pra mim, me encher de esperanças de quem alguém estaria finalmente apaixonado por mim [só essa possibilidade já fazia eu me apaixonar], ficavam comigo e no outro dia diziam que tinha sido apenas uma curtição - ou porque o ciúme fizera efeito, ou porque não fizera e eu não servia nem pra isso.
Como podem ver, mulheres também sabem ser canalhas. Aliás, eu acredito que a canalhice vem com a beleza, pessoas bonitas são naturalmente canalhas, e pessoas feias fingem que são canalhas para justificar porque estão sempre com alguém diferente, mas a verdade é que ninguém quer ficar com eles uma segunda vez. E esse era meu problema, meu trauma maior, a frustração da minha vida. Eu beijava muitas meninas [considero todos os beijos de um primeiro encontro como primeiros beijos], mas nunca as beijava um segunda vez. O pior é que eu sabia que meu beijo não era ruim, porque nos primeiros encontros elas me beijavam muitas vezes e com muita vontade - a gente sabe quando uma menina está gostando. Até hoje eu não sei o que eu fazia de errado. Acho que eu demonstrava interesse demais, demonstrava que não era "apenas uma ficada" pra mim. Algumas meninas achariam isso "fofo", só que eu demorei muito tempo até encontrar alguém que pensasse isso. Mas tudo bem, porque quando eu encontrei, valeu à pena toda a espera [eu ia contar como foi, mas já escrevi demais e estou com sono porque acabei de chegar da farra]. Ela foi minha primeira namorada, a primeira mulher - era mais velha - que tinha dado valor ao meu sentimento. E se tem outra coisa que eu sei, é que depois da primeira namorada tudo melhora. As primeiras namoradas são um portal para o mundo das namoradas. As meninas começam a se perguntar "porque aquela menina linda namora com aquele cara feio?", e passam a reparar e procurar tanto alguma razão que explique esse fato sobrenatural, que acabam encontrando. Descobrem que há coisas além da capa, e que essas coisas podem sim substituir a atração meramente  ocular.

*Ainda sou feio, mas agora tenho experiência ;)
Vou parar por aqui. Perdoem os erros ortográficos e boa "noite".

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Noites de um verão qualquer;

“Não pergunte sobre meu passado” Eu disse.

Ela não perguntou. Acho que pensou que eu tinha passado por algum grande trauma, porque passou o resto da noite me encarando com olhos de pena. Se eu tivesse passado mesmo por algum grande trauma eu odiaria que me olhassem daquela forma, mas como não era o caso, tirei proveito da situação.

O nome dela era Letícia. Não que eu me importasse realmente com nomes, mas homens que não perguntam o nome são mal vistos pelas mulheres. Não sei por quê. Quer dizer, talvez eu saiba. Mulheres gostam de ser enganadas. Se a gente diz que quer passar apenas uma noite, dão chilique e chamam de canalha. Mas se a gente mente, diz que quer um caso sério só pra passar uma noite, elas adoram, porque quando a noite acaba elas podem se enganar e passar horas esperando o telefone tocar. Há quem chame isso de romantismo; eu chamo de masoquismo.

Conversamos por mais de duas horas. Eu não gosto muito de conversar quando não tenho interesse em compromisso, mas ela gostava de Led Zeppelin, AC/DC e Pink Floyd, e bebia conhaque como se fosse água. Achei que merecia um desconto. Falamos até sobre cinema... Combinamos de fazer uma sessão especial do Poderoso Chefão qualquer dia, mas só porque eu preciso mostrar pra ela que o primeiro filme, apesar do que diz a crítica e os idiotas metidos a cinéfilos, é imbatível.

Depois de tanta conversa, eu fui ficando impaciente. Fui me aproximando com jeito e calei a boca dela, que devia ter algum defeito, porque não parava de falar. Eu me perguntei: “será que ela não sabe que bocas servem para outras coisas?” Mais tarde eu descobri que ela sabia. Fomos pra minha casa no meu carro, e eu quase bati três vezes por ela saber usar a boca bem demais. Só pra deixar claro, eu não costumo levar nenhuma mulher pra minha casa, não pra passar só uma noite. Depois que elas descobrem nosso endereço não tem mais salvação. Mas Letícia contou que morava com os avós e tal e coisa e eu achei que não pegava bem. Depois eu dizia que aquele era o apartamento de algum amigo e me livrava dela.

Durante o resto da noite as coisas só melhoraram. Descobri que ela era uma águia na cama, ô mulherzinha insaciável. Eu nunca encontrei alguém que me fizesse pedir penico, mas com ela foi quase. Deixamos o sexo no stand up e fomos jogar poker, o que levou a mais sexo, o que levou a mais poker, o que levou a mais sexo e mais poker, e mais sexo, e mais poker. Tenho que confessar que fiquei impressionado por ela ter ganhado de mim quase todas as vezes, porque eu geralmente sou implacável. Não lembro bem – porque bebi demais – mas devo ter deixado ela ganhar. Além do mais, ela ficava me distraindo com a porra daquele batom vermelho que ela retocava o tempo inteiro. Provavelmente ela sabia que ficava incrivelmente sexy com os lábios entreabertos daquele jeito.

Adormecemos no tapete da sala mesmo. Só faltava uma lareira pra ser cena de filme, mas era verão e estava muito quente. Eu acordei com uma dor de cabeça do caralho, mas fiquei de olho fechado, fingindo que ainda estava dormindo, enquanto ensaiava a desculpa que eu daria quando Letícia perguntasse quando a gente se veria novamente. Mas pensei direito e achei que não faria grande mal se a gente se encontrasse algum outro dia... Sem compromisso, claro. Ou talvez a gente pudesse ter uma relação aberta ou qualquer coisa do gênero.

A surpresa veio quando eu finalmente abri os olhos. Procurei-a em volta, no banheiro, no quarto, na cozinha. E encontrei o único vestígio dela na geladeira: “Não pergunte sobre o meu passado”. Eu era o passado dela agora.

[A paixão pode ser avassaladora. Muitos amores começam logo os gatos saem a noite, e acabam-se com o canto do cotovia. Postagem coletiva de amigos].

Desafio coletivo "Uma noite de verão".
Outros textos de Pâmela Andrey Brugger,
Fernanda, Maria Fernanda, Alan Félix e Natália.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Presente de natal

Meu problema com natal é coisa antiga. Tudo começou quando eu pedi um Autorama para papai noel e ele me deu cuecas. Eu perguntei para minha mãe porque papai noel não tinha me dado um Autorama, e ela disse que papai noel estava ficando velho e que provavelmente tinha trocado a minha carta com a carta de algum outro Matheus.
Na segunda feira, quando eu fui para o colégio, eu ouvi o outro Matheus da minha turma (mas todo mundo pensava que ele era o único, porque só me chamavam se Sobral) dizendo que tinha ganhado um Autorama de papai noel. Em qualquer outra situação isso não seria um problema, até porque, naquele tempo, todo mundo queria um Autorama; acho que metade dos meninos da minha turma tinham ganhado um Autorama também. Mas, graças a minha mãe, eu pensei que o outro Matheus - três vezes maior que eu, na altura e na largura - tinha ganhado o meu Autorama por engano, e eu estava com as cuecas dele.
E lá fui eu, feliz e saltitante, pensando estar prestes a desfazer um grande mal entendido, e crente de que o outro Matheus estava realmente frustrado por não ter ganhado as cuecas branca, preta e cinza que ele tanto queria. Eu contei pra ele o que tinha acontecido; disse que a gente podia trazer os presentes no dia seguinte para destrocar. Foi aí que o outro Matheus riu de mim. E os "pagadores-de-pau" do outro Matheus riram de mim. E as meninas mais bonitas da sala, também "pagadores-de-pau" do outro Matheus, riram de mim. Eu fiquei tão envergonhado, que acho que fui diminuindo até ficar invisível, porque quando pararam de rir, passaram a ignorar minha presença. Um murro teria doído menos. Cheguei em casa chorando e contei para minha mãe. Sabe o que minha mãe fez? RIU de mim (é meu carma) e me contou que papai noel não existia, e que ela tinha me dado as cuecas porque já tinha elas guadadas e não tinha tido tempo de comprar o Autorama. Agora não dava pra ela ter contado isso antes?
Mas esse foi só o começo. É obvio que a minha família não me deixaria esquecer de uma história como essas. Por isso todo natal eu ganho cuecas, e todo mundo se reúne em volta da mesa para relembrar a história do dia em que Matheus foi tirar satisfações com outro Matheus porque pensou que papai noel tinha trocado as cartas.
Eu sei, eu sei, podem rir de mim.